Precisamos falar sobre HOMOFOBIA! – Por Gustavo e Eliana


Venho aqui vos falar sobre Walyngre da Costa Silva, 38 anos, cidadão de bem, filho amoroso e presente, profissional dedicado, um ser humano de um alto-astral invejável, que foi brutalmente assassinado no último dia 25 de fevereiro de 2018 a pauladas e facadas.

Pra ser mais precisa, foram trinta e uma facadas desferidas por pessoas tomadas por um ódio imensurável. Mas quem? Quem? Não se sabe! E essa pergunta não pode ser calada! Normalmente, são vistos crimes em que as pessoas são mortas com uma, duas, três facadas, mas com vinte, trinta, cinquenta? Esses requintes de crueldade apontam para crimes de ódio contra pessoas homossexuais. E isso é HOMOFOBIA!

Homofobia significa aversão a homossexuais, compreendendo qualquer ato ou manifestação de ódio ou rejeição a eles e elas. Precisamos falar sobre esse tema que é pertinente, uma vez que, no Brasil, segundo o Grupo Gay da Bahia – GGB, que desenvolve um trabalho independente de investigação, devido à dificuldade de apuração das investigações oficiais, matam-se mais LGBTs do que nos treze países do Oriente e África, onde existe pena de morte contra essas pessoas.

No ano de 2016, de acordo com o GGB, ocorreram 343 assassinatos contra LGBTs, sendo 50% dos casos contra gays. Acredita-se que, por dia, há o registro de cinco denúncias de LGBTfobia (aversão a lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais), porém os números são bem maiores devido ao déficit de estatísticas, que se deve à ausência de uma legislação específica voltada a garantir a inserção da população LGBT no sistema jurídico.

A maioria das estatísticas existentes atualmente são baseadas em dados midiáticos, já que não se conta, no Brasil, com um órgão de estatística regular sobre esses tipos de crime – o que é um retrocesso, levando em consideração a evolução em que vivemos – configurando-se, assim, uma notória subnotificação. Relatório do GGB indica que, em 2015, 25% dos homicídios praticados contra LGBTs tiveram o criminoso identificado.

Cerca de 10% das ocorrências levaram à abertura de processos e à punição dos assassinos, ressaltando que todos os casos cobertos pelo GGB são crimes que foram parar nos jornais e sites, o que em tese gera mais pressão para que sejam elucidados, dificultando a entrega dos homicídios a um esquecimento intencional e voluntário.

É apavorante constatar que em nossa cidade aconteceu um crime monstruoso contra um ser humano e que alguns cidadãos, que se dizem de bem, apoiados em velhas posturas, invocando por vezes até a Bíblia Sagrada, estejam absolvendo o(s) culpado(s) e justificando seu ato de violência e crueldade gratuitas, através da culpabilização da vítima, respaldando-se em sua orientação sexual.

Não há justificativas para o injustificável! Não se pode admitir esse tipo de postura em que vomita-se ódio, escudando-se na liberdade de credo e na certeza da impunidade. Não confundamos opinião com discurso de ódio! Até quando os assassinatos contra gays serão justificáveis? Quantos Walyngre precisarão ser ensanguentados ainda?

A minha inquietação é pulsante! Não posso me furtar em levantar um debate necessário e urgente como esse. As sociedades pedrafoguense e itambeense não podem ser omissas e complacentes com esse crime cruel!

Por isso, clamo: JUSTIÇA PARA WAL! E, parafraseando Chico Buarque, vos digo: “Pai, afasta de “nós” esse cale-se!”.

Por: Professora Eliana César Rodrigues Guedes.


Por: Gustavo Henrique 

Antes de aceitar que o assassinato de Walyngre não tem a ver com homofobia, precisamos nos questionar: quantas pessoas LGBTs tiveram o mesmo fim? Quantas ainda vão ter? O Brasil é o país que mais mata essas pessoas no mundo inteiro. 

No ano passado, o Grupo Gay da Bahia registrou 445 homicídios. Em 2016, registrou 343. Esses não são casos de morte que têm origem em doença, em desastres naturais, nem na violência urbana. Eles têm origem no momento em que alguém acreditou estar justificado na ação de matar outra pessoa com as próprias mãos. Esses casos dizem respeito a quem nós, enquanto sociedade, escolhemos manter ao nosso lado ou não.

Um crime de ódio não começa e termina no momento em que o assassino termina a vida da vítima; está no valor que a identidade atacada tem para as pessoas ao redor. No caso de Wal, essa identidade é a de um homem gay. Assim, o crime que nos faz reunir aqui, hoje, começa nas piadas, no constrangimento, na falta de oportunidade, no bullying na escola, no escárnio social, na manutenção do conforto – as risadas, a certeza de superioridade – de quem nos oprime. Nós LGBT, negros e negras, indígenas, mulheres.

Está na vergonha que, um dia, todos nós sentimos de sermos quem somos, simplesmente. Medo de confiar em si mesmo. Medo de olhar nos olhos. Medo de querer, de sentir, de tentar. O assassinato de Walyngre tem culpados específicos, mas não deixa de estar nas mãos de quem olha para esta situação e pensa: “bem feito.”

Não se fala aqui de uma tragédia, uma fatalidade, um feito do destino, mas de uma realidade que atormenta gays, lésbicas, travestis, transexuais, pessoas transgênero, pessoas não binárias, assexuais e intersexuais todos os dias. Somos muitos porque as formas de vida que nos ensinam e nos permitem desde criança são tão curtas que não nos deixam respirar.

Para muitos de nós, a luta diária é a de sobreviver na escola, no trabalho e dentro de casa – quando se tem uma escola, um emprego, um lar. É numa situação como o assassinato de um homem honesto e generoso como Walyngre que percebemos a diferença de valor que o Estado e a nossa sociedade enxerga na vida de uma pessoa que nasceu se encaixando nas “regras” e na de quem nasceu numa minoria social – minoria de poder, e não de pessoas.

Todos que estão aqui amam e admiram Walyngre, mas nem o amor que ele deixou conosco foi suficiente para evitar sua morte, a impunidade de quem o matou, nem a desigualdade que assola os seus irmãos e irmãs. Essa é a importância de estar aqui hoje.

De não se calar diante deste crime nem das violências do dia a dia – pouco a pouco, elas também matam. De não evitar os assuntos que, supostamente, nos dividem enquanto comunidade. Estamos aqui para gritar pela vida de Wal e pelas vidas tomadas quem vêm à frente.

Ainda que nos matem, batam ou prendam, que nos tentem torturar, apagar ou perseguir,permanecemos.

Por: ELIANA E GUSTAVO

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